Start-up eStoks cresceu 2.900% em um ano criando um sistema inteligente que evita desperdícios e revende produtos que antes lotavam galpões e ferros velhos. Entenda como
Por Joana Marins
Ricardo Salazar trabalhava em um banco de investimentos australiano. Lá, deparou-se com um mercado que representava 2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e que sequer existia no Brasil. O olho do brasileiro brilhou e logo vislumbrou uma bela oportunidade de negócio com a área, que se chama logística reversa.
Para entender a magnitude da chance desse mercado no país, é preciso observar o tamanho do problema que temos. Mais de 5% de tudo que se fabrica por aqui acaba voltando ou para a própria fábrica, ou para o galpão dos varejistas. As razões são as mais diversas possíveis: arrependimento do cliente, defeito, avaria, recall, entre outras. O resultado disso é: galpões tomados por produtos que ficam, em média, 280 dias parados, indo parar em sucateiros, de volta aos fabricantes ou até revendidos – uma saída que não costuma ser vantajosa, pois, analisando o gasto com logística, armazenamento e eventuais reparos, o produto passa a custar até 85% a mais do valor original. Essas perdas são inevitáveis e os varejistas tendem a colocar o custo delas no produto, o que o faz perder competitividade.
Dentro desse cenário, Salazar criou a eStoks, uma start-up que avalia o produto que retornou, o compra, faz sua coleta, oferece a operação reversa, assume o risco e o vende em um outlet próprio. “É um modelo pouco conhecido aqui, mas muito comum nos Estados Unidos e outros lugares do mundo. Os produtos de outlets norte-americanos, por exemplo, são fruto de processos como esse. Nessas lojas, as pessoas já sabem que encontrarão peças de coleções passadas e que cada opção é diferente, tendo uma função díspar do varejo normal”, explica.
A base da operação é um serviço gratuito de avaliação, feito por meio de um algoritmo próprio. A tecnologia funciona como um aplicativo, que cria combinações de análise e informa qual o melhor destino para o produto, a chance de trazer prejuízo etc. Essa decisão, que tomava tempo, passa a ser automatizada e ter um padrão. A partir disso, a própria eStoks oferece um valor pelo produto e realiza o transporte até sua loja própria. Atualmente, eles contam com um outlet que fica em Jaboatão dos Guararapes, cidade próxima a Recife, em que recebe os produtos e os revende.
O valor costuma ser de 40% a 50% mais barato que um novo, tendo garantia da eStoks de um ano. “O interessante é que não concorremos com o varejista, pois na minha loja não dou opção; são apenas os produtos a que tivemos acesso e, ainda, não são mais de primeira mão. Também temos o cuidado de não estarmos em shopping ou áreas centrais, dando preferência aos nossos parceiros. Além disso, sabe-se que quem tem uma boa experiência com troca costuma fidelizar-se à marca, e nós ajudamos nesse processo”, reforça Salazar.
Em um ano, a eStoks cresceu 2.900% e seu modelo inovador de negócios alcançou a redução de até 65% dos custos operacionais reversos, tanto da indústria quanto do varejo. A start-up conta com uma boa cartela de clientes, que inclui as marcas Britânia, Oster, Cadence e Philco.
Fonte: http://revistavarejosa.com.br/startme-up/o-lucro-que-vem-das-perdas/